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Uma pequena história da linha de trem ou da intenção da estrada de ferro passando em Santo Antônio do Jardim

 A companhia mogiana de trens do estado de São Paulo no período de 1895 a 1896, várias fazendas escoavam sua produção de café para Porto de Santos. Na década de 1870, várias fazendas hipotecavam suas plantações de café, escravos, como parte de pagamento para construções das vias ferras para escoarem suas produções até o Porto de Santos. O café do Vale Jaguari Mirim, na região de São Sebastião do Jaguari, Vila Caracol de Andradas, estava sendo escoado pelo ramal da estrada de ferro mogiana do município paulista de Espírito Santo do Pinhal. É significativo lembrar também que a mogiana estrada de ferro ficou conhecida como cata café, o que mostra sua estreita relação. Com a produção com a feira da região.

 

Imigrantes, descendentes e brasileiros unindo-se e investindo em ferrovias 

No começo do século XX havia um jornal chamado O Popular. Em seu cabeçalho ele é apresentado como órgão do governo municipal. No dia 20 de junho de 1925, nele foi publicado o que, numa olhada rápida e apressada, parece um artigo estranho, trazendo o gerente-redator Tertuliano de Oliveira e o redator Nylo Alves como responsáveis pelo texto: “Estrada de Ferro de Caracol”. Na verdade, tratava-se das atas de fundação e dos estatutos da recém criada Companhia de Estradas de Ferro Caracol, com a informação do montante do capital social – “mil e quatrocentos e quarenta e um contos de réis do capital montante do prospecto” - do número de ações e apresentando a lista de acionistas com a respectiva participação de cada um. O exemplar de que dispomos, está bastante deteriorado, dificultando a leitura e extração dos dados. Um exemplar, em melhores condições nos foi oferecido por Zétulo, mas ainda não tivemos tempo de digitálizá-lo. Mesmo assim, ao que parece, a empresa foi criada no formato de sociedade anônima, de acordo com os ditames da legislação do final do século XIX, momento em que o desenvolvimento normativo/legal estava relativamente bem desenvolvido dentro de uma perspectiva capitalista financeira, que vinha sendo idealizada e discutida pela elite brasileira desde a época 118 do Império, após a lei que promoveu a liberação geral da cobrança de juros em 183879. Ata da Assembleia definitiva da Companhia de Estrada de Ferro Caracol Aos dez dias do mês de maio de mil novecentos e noventa e cinco, convocados previamente pelo O Popular, desta Cidade de Caracol, em seu número de três de Maio do corrente ano, compareceram no Teatro Variedades, na rua Coronel Oliveira, os subscritores desta companhia, abaixo assinados [...] Achando-se sobre a mesa os documentos legais relativos a constituição desta sociedade, o Presidente mandou que eu fizesse a leitura de cada um deles. (...) foram todos estes documentos sujeitos a discussão, observando o Presidente que a disposição dos Estatutos não podiam ser modificadas na presente Assembleia e sim em qualquer outra assembleia extraordinária, que depois de organizada a presente sociedade fosse convocada para este fim a não ser que, na presente reunião qualquer modificação reunisse a unanimidade dos votos. Não havendo quem pedisse a palavra, foram os documentos submetidos à aprovação, havendo sido aprovados por unanimidade. Diante dessa votação, o presidente ordenou que eu transcrevesse nesta ata os referidos estatutos e a dois recibos e declarou constituída a presente sociedade, congratulando-se com os presentes, pelo êxito alcançado pela iniciativa dos fundadores da presente companhia. O estatutos aprovados são os seguintes: [...] A publicação, tanto da ata de fundação como dos estatutos da Companhia, foi feita para cumprir as determinações do §9º do Art. 26 dos mesmos: 79 ROVARON, Carlos Eduardo. Xadrez imobiliário:... Op. Cit. 119 §9º. Fazer o anúncio prévio do art.147 do decreto 434 de Julho de 1891 e a publicação pela imprensa do balanço, relatório e parecer do conselho fiscal até a véspera da Assembleia, e promover todas as publicações legais . Portanto, essa publicação no jornal O Popular foi feita para cumprir uma determinação legal válida em escala nacional. O primeiro exemplar que deste jornal que encontramos é do acervo particular da família Stivanin e foi digitalizado durante a entrevista que fizemos com Zenaide Stivanin Galhardo. Ele pertenceu a Giuseppe Stivanin, que tinha interesse na mepresa, pois sua família havia investido em 125 ações dela. É possível imaginar Giuseppe recebendo ansioso o jornal na fria manhã de 20 de junho de 1925, época das geadas, das festas juninas e dos terços nas roças, da tarde para noite, que sempre acabavam com muita comida, fogueira e bebida. Giuseppe não só leu o jornal, como o grifou as partes do texto que mais lhe interessaram e deixou suas anotações, feitas a lápis margem esquerda. Elas estão quase apagadas hoje. Segue três recortes como o exemplo: 120 Todos os trechos são referentes a mecanismos administrativos da empresa, o que para uma pessoa de espírito empreendedor como Giuseppe Stivanin, era assunto de interesse, afinal, vários nomes de sua família, constam na lista de acionista. Muito provavelmente, seu interesse também se deve ao fato de que uma estação ferroviária na cidade abaixaria os custos de transporte de suas produções de café e vinho e, por consequência, aumentaria os lucros. Segue abaixo os nomes da família Stivanin que por hora foi possível levantar em face das limitações impostas pelo estado de conservação do documento: Santo Stivainin João Stivainin 25 ações 25 ações Júlio Stivanin 25 ações Antônio Stivainin 25 ações Ricardo Stivanin 25 ações Total de ações 125 ações 121  122 Abaixo, segue a lista de todos os acionistas, com os respectivos números de ações de cada um:  NOME COMPLETO NO. AÇÕES Alcino Bretas de Oliveira 50 Jorge dias de Oliveira 63 Antônio Augusto de Oliveira 288 Octavio Teixeira Barbosa 288 João Contin 63 Adolpho Pio de Magalhães 138 Anthero Ferraz 150 Raphael Daniel 50 Mário Bueno de Oliveira 25 Antenor E. Sataut 15 Antônio Alves dos Santos 25 Jorge Francisco de Carvalho 25 João Nicanor de Andrade 15 João Cândido de Oliveira 50 Lourenço O. da Costa 100 João Ventura da Silva 25 José Miranda 10 Fernando Fossa 25 Achile Geraldi 10 Modesto Procópio Valentin Stella 20 João Maria Trevisan 50 Antônio Campese 50 Alfredo Innocencio Risso 50 Virissimo Ramos da Silva 50 André Pontilo 10 Domingos Contin 25 Aurélio Contin 25 Eugênio Ansani 25 Francisco Basso 100 Santo Vanzela 25 Vitório Manzoli 10 Luiz Augusto de Mello 15  123  Santo Stivainin 25 João Stivainin 25 Júlio Stivanin 25 Antônio Stivainin 25 Luiz Campese 100 Ricardo Stivainin 25 José Muterle 10 Luíz Sasseron 150 Michele Tognato 25 Francisco Trevisan 75 Augusto Marcondes O. Santos 10 Ovídeo Fava 25 Guerino Marcon 38 Messias gomes Correia 50 Ilino Marcon 37 Vicente Dias 25 Barros Oliva & C.a Ltda. 125 Erico Busato 25 Anthero Marcon 37 João Maximiliano Marcon 38 José Hygino P. da Silva 25 Manoel Antônio Meira 10 Pe. Antônio d´Almeida 10 Nicolau Calderaro 25 José de Castro Leite 10 Francisco Nogueira dos Santos 25 Hildebrando Venturelli 25 João Fernandes Ramos 10 Vital Ribeiro P. Luz 10 Tertuliano de Oliveira 20 Carlos Augusto Ribeiro 15 Oswaldo de Andrade 30 Arthur Risso 10 Arioswaldo de Andrade 10 Antônio Pereira Caldas 100 João Antônio Ferras 15 José Antônio Ferraz 15  124  José Antônio Peçanha 100 Antônio Afonso Peçanha 100 João Luiz de Almeida 25 ???????????????????? 25 Felisberto Ribeiro 50 Luiz Benassi & Filho 50 Modesto Stella 5 Valentin Stella 5 Antônio Stella 5 Anna Marcondes Staut 50 João Nhola 10 Francisco P. Caldas Mesquita 50 Dr. Oscar de Oliveira 50 José F. Assis Gonçalves 10 João de Magalhães Teixeira 25 Antônio Troche  15 João Eusébio Ribeiro 50 João Mosconi 200 Esmeralda da silva Athanazio 25 Ângelo dal Soto 10 Georgio lobo 100 Justino Orsoli 25 Braz Landri 25 Lindolpho Henrique de Oliveira 10 Gemma Gorini 10 Marcolino Alves da Silva 250 Manoel Garcia 50 Domingos Maria Athanazio 10 José Sasseron 100 Monici & Graziani 25 João Baptista Trevisan 100 Joaquim de Souza Bastos 10 José Pereira 50 Garibaldi Monteiro & Filho 150 Alipio Lobo 25 Adriano Fernandes Lobo 50 João Henrique Villela 250  125 (...iario) de Magalhães Lobo 25 Henrique Graziani 275 Raymundo Duarte Junior 100 Lourenço Trielli 100 Antônio Luiz de Almeida 25 Dr. Edmundo Venturelli 25 Antônio Luiz A. Primo 25 Paschcal Baratti 25 Antônio Lozano Herrera  25 Francisco Bertoli & Irmão 10 Vitorio Martinello 25 Pedro Campese 100 Joaquim Gonçalves 100 João Baptista de L. Novaes 50 Horácio Leite de Souza 50 Ângelo Carretero 25 Joaquim Villas Boas 25 Gaspar Pereira da Silva 20 Carolina da Costa Flores 25 Idu Ormastroni 25 José Ormastroni 25 Luiz Benassi & Irmão 25 Estulano Ribeiro 25 Joaquim Ignácio do Lago 25 Antônio Francisco Romão 25 Mendo Antônio  50 Ziliottlo Sara 25 José Menabini 25 Sebastião Baptista Romão 25 Arnaldo Pereira 25 Egydio Pinto 25 Leonardo Alves dos santos 20 Joaquim Alves dos Santos 20 Manoel Alves dos Santos 20 Miguel Tognato 25 Antônio Trevisan 100 Manoel Diogo Gonçalves 25 Luiz Diogo Gonçalves 50 Luiz Secco Joaquim Antônio Gonçalves 25 José Loures Filho 50 Leonildo Conti 10 Silvio de Andrade 25 Antenor Risso 10 50 Ao todo, com limitações de leitura do jornal no momento, contabilizamos 82 acionistas com sobrenomes luso-brasileiros, detendo 4.197 ações, e 68 acionistas com sobrenomes italianos, detendo 2.843 ações. A iniciativa da fundação da Companhia de Estrada de Ferro Caracol, ao que parece, foi de iniciativa da elite luso-brasileira, em particular da família Oliveira de Andradas, mas também contou com o apoio maciço da comunidade de italianos e descendentes. A saber, a diretoria foi composta por: Antônio Augusto de Oliveira como diretor presidente, João Contin como diretor gerente, Jorge Dias de Oliveira como diretor técnico (engenheiro residente em São Paulo) e, por fim, Adolpho Magalhães como diretor vogal. Como é possível notar, a elite local se aliou a colônia imigrante para tentar trazer um ramal da Estrada de Ferro Mogiana para Andradas, mas, tanto brasileiros quanto italianos, foram frustrados pela crise de 1929, que fez o sonho desaparecer. Os leitos para deitar os trilhos até foram abertos, mas a estrada de ferro nunca foi construída. 

 

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